segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Tinha paixão?

[Herberto Helder faria hoje 93 anos. Poema da página O poema ensina a cair]


li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios, 

quando alguém morria perguntavam apenas:

tinha paixão? 

quando alguém morre também eu quero saber da qualidade da sua 

paixão:

se tinha paixão pelas coisas gerais, 

água,

música, 

pelo talento de algumas palavras para se moverem no caos, 

pelo corpo salvo dos seus precipícios com destino à glória, 

paixão pela paixão,

tinha? 

e então indago de mim se eu próprio tenho paixão,

se posso morrer gregamente,

que paixão? 

os grandes animais selvagens extinguem-se na terra,

os grandes poemas desaparecem nas grandes línguas que desaparecem, 

homens e mulheres perdem a aura 

na usura, 

na política, 

no comércio, 

na indústria,

dedos conexos, há dedos que se inspiram nos objectos à espera, 

trémulos objectos entrando e saindo

dos dez tão poucos dedos para tantos 

objectos no mundo

¿e o que há assim no mundo que responda à pergunta grega,

pode manter-se a paixão com fruta comida ainda viva,

e fazer depois com sal grosso uma canção curtida pelas cicatrizes, 

palavra soprada a que forno com que fôlego,

que alguém perguntasse: tinha paixão? 

afastem de mim a pimenta-do-reino, o gengibre, o cravo-da-índia, 

ponham muito alto a música e que eu dance, 

fluido, infindável, 

apanhado por toda a luz antiga e moderna, 

os cegos, os temperados, ah não, que ao menos me encontrasse a 

paixão e eu me perdesse nela,

a paixão grega 


Herberto Helder, OFÍCIO CANTANTE, edição Assírio & Alvim

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Notas finais 1º semestre 2011-2012

Expressão e argumentação
Turma C
Notas finais
Ana Milena Rocha – 19
Andreia Gaita - 16
Daniela Alves – 13
Diana Vinagre - 16
Dina Correia – 18
Domingos Ribeiro - 14
Dora Guennes - 17
Fernanda Cardoso – 16
Frederico Duque dos Santos – 13
Inês Lopes – 12
Maria Luísa Serra – 17
Maria Helena Lopes - 16
Isabel Jacinto – 18
Ivan Gonçalves – EXAME
Marco Ferreira - 15
Mónica Ferreira - 14
Nuno Trindade - 17
Paulo Nunes – EXAME
Pedro Piteira – 15
Susana Carinhas – 16
Tiago Varanda – 18

Nota: quaisquer dúvidas, contactar o docente: zink.rui@gmail.com
O exame de dia 26 de Janeiro é aberto a todos os alunos, mas só é obrigatório para os assinalados.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Sobre o NAO

Em defesa dos espetadores
por FERREIRA FERNANDES Hoje 33 comentários

Como estava no ano passado a dizer, de "optimista" passei a otimista. Só não foi de um dia para o outro porque o meu jornal não se publica a 1 de janeiro. Olha, já escrevo os meses só com minúsculas! Agora que o fim do mês chega no dia 15 e prolonga-se, prolonga-se, cada vez maior, os princípios do mês ficam mais pequeninos... É irónico, gosto. E também gosto do Novo Acordo Ortográfico (NAO) porque é um acrónimo corajoso que incita os opositores a fazer campanhas: "Diga NÃO ao NAO!" Eu disse sim. Um amigo meu também disse sim mas contesta o "espetador". Ele diz que "espetador", sem o antigo "c", fere-o. Comecei por brincar, dizendo que ferir é próprio de "espetador", mas depois de pensar fiquei mais convicto, compactamente convicto, aliás, de que com aquela queda de "c" damos mais verdade à palavra, aproximando-a da sua função moderna. Um antigo assistente de espetáculo era uma testemunha passiva, podia ser simplesmente "espectador". Hoje, porém, é alguém que incita, espicaça, enfim, espeta o artista. Quando Cristiano Ronaldo, ao preparar a marcação dum livre, se obriga a recuar com passadas abertas, é porque sente no lombo as nossas farpas de espetadores. Isso quando não lhe espetamos com lasers nos olhos. Então, tudo bem com o novo acordo? Não, repugna-me o perentório. Se uma pessoa já não pode dizer "peremptório", sublinhando pedantemente o "ptó", a palavra deixa de fazer sentido. Perentório é "peremptório" ou não é.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Feliz Natal :-)

Eduardo Lourenço é o Prémio Pessoa 2011

O filósofo e ensaísta Eduardo Lourenço foi hoje distinguido com o Prémio Pessoa que desde 1987 premeia figuras com um papel relevante no ano anterior nas áreas da cultura e da ciência.
O anúncio foi feito, como habitualmente, no Palácio de Seteais em Sintra por Francisco Pinto Balsemão, que preside ao júri também constituído por Fernando Faria de Oliveira (Vice-Presidente), António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, João Lobo Antunes, José Luís Porfírio, Maria de Sousa, Mário Soares, Miguel Veiga e Rui Magalhães Baião.
"Num momento crítico da História e da sociedade portuguesa, torna-se imperioso e urgente prestar reconhecimento ao exemplo de uma personalidade intelectual, cultural, ética e cívica que marcou o século XX português", escreveu o júri em comunicado sobre a escolha de Eduardo Lourenço, homenageando "a generosidade e a modéstia desta sabedoria, que tendo deixado uma marca universal nos Estudos Portugueses e nos Estudos Pessoanos, nunca desdenhou a heteredoxia nem as grandes questões do nosso tempo e da nossa identidade".
Para o júri, do qual Eduardo Lourenço foi membro até 1993, este prémio pretende prestigiar o filósofo e a sua intervenção na sociedade, "ao longo de décadas de dedicação, labor e curiosidade intelectual, que o levaram à constituição de uma obra filosófica, ensaística e literária sem paralelo".
"Não há dúvida que o nosso premiado é uma referência e o nosso país precisa de referências", disse Pinto Balsemão na entrega do prémio a Eduardo Lourenço.
Também Mário Soares destacou a importância deste prémio nos dias de hoje. "Num momento como este é particularmente importante dar o prémio a Eduardo Lourenço porque para além de tudo é um homem que acredita em Portugal e nos portugueses", disse em Sintra.
Segundo o comunicado do júri, "Eduardo Lourenço é um português de que os portugueses se podem e devem orgulhar. O espírito de Eduardo Lourenço foi sempre reforçado pela sua cidadania atenta e actuante. Portugal precisa de vozes como esta. E de obras como esta".
O prémio, de 60 mil euros, é uma iniciativa do jornal "Expresso" (do grupo Impresa de que é presidente executivo Pinto Balsemão) e tem o patrocínio da Caixa Geral dos Depósitos.
Os escritores Herberto Hélder, Vasco Graça Moura, a pianista Maria Joao Pires ou o bispo D. Manuel Clemente foram alguns dos nomes premiados com o galardão que comemora este ano o 25º aniversário. A vencedora do ano passado foi a cientista Maria do Carmo Fonseca, directora executiva do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa. O júri - que diz querer ir contra "uma velha tradição nacional" de apenas reconhecer postumamente os autores de grandes obras e promover o seu reconhecimento em vida - destacou a sua "cultura de rigor".


16.12.2011 - Ana Dias Cordeiro
http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=298150